A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade…
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade
TH - Pescado certeiramente do blog "Enfim, é o que tem para hoje" :)
4 comentários:
Drummond é tão bom que nunca precisou da ABL
Beijos querido
um dos escritos mais fortes e verdadeiros de Drummond ...
bjux
;-)
Drummond? Mesmo? será que ele não sabia que a verdade era aquosa?
Muito legal! De verdade...Me lembrou demais O Banquete de Platão! Sobretudo a parte do Belo! Abraços!
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