domingo, 18 de maio de 2008

CHEGANDO A CAVALARIA NO ÚLTIMO INSTANTE, ADIANTARIA?


Guilhermina tinha uma decisão a tomar.

Em plena época medieval, burguesa, namorava às escondidas Donnie, plebeu, rapaz bonito que se vestia sempre de maneira surrada, com roupas pobres, reflexo de sua realidade naquele reino. Sua família trabalhava pelo direito de utilizar um pouco da terra - o pagamento pelos árduos serviços braçais prestados. Só tinham direito ao descanso aos domingos e nos dias santos de guarda. Sim, era uma forma velada de escravidão, pois se ousassem fugir, o Rei Frederico Gausth mandaria seus servos atrás deles na hora.

Já ela, a princesa, tinha uma vida que toda garota da época gostaria de ter, como criadas lhe banhando e embelezando a toda hora, além do direito de escolher quando quisesse as mais belas jóias (feitas com as pedras mais preciosas da época) que seu pai-Rei mandava trazer da Europa e de todos os lugares mais inacessíveis possíveis, tamanho era seu apreço pela pequena. Era sua dádiva.

Os encontros com Donnie, que singelamente começaram em seu rebanho de alvas ovelhas, começaram a se intensificar. Não por acaso se tornaram cada vez mais perigosos, visto que o rei tinha vigilantes por todos os lados daquele reino, dentre eles o mais temido, o corcunda Félix, com aspecto monstruoso e aterrorizante. Não foi suficiente pra intimidá-los. Era algo inevitável, maior que ambos, e destemendo todas as conseqüências decidiram continuar. Ambos, com muito amor e muito respeito mútuo, descobriram cedo todas as belezas e ardentes loucuras de um relacionamento inusitado, mas belo naquelas condições. Ela era, para ele, tudo o que seus mais preciosos sonhos não conseguiam expressar; Já Guilhermina tinha a nítida percepção de que ao lado de Donnie, ela descobrira um mundo que nunca havia visto: mais humano. Aquela gente, apesar de evidente pobreza, era, à sua maneira, feliz. Eram vizinhos que se cumprimentavam com abraços e afagos, e todos os domingos inventavam uma festividade diferente, na casa de algum deles. E muito leais. Tão leais que jamais disseram uma só palavra acerca da presença secreta da menina no ambiente deles.

Sentado na relva, com sua harpa, Donnie tocava e cantava para sua amada:

“A deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua
Costuma se embriagar
Nos seus olhos eu suponho
Que o sol num dourado sonho
Vai claridade buscar

Minha rua é sem graça
Mas quando por ela passa
Seu vulto que me seduz
A ruazinha modesta
É uma paisagem de festa
É uma cascata de luz

Na rua uma poça d’água
Espelho de minha mágoa
Transporta o céu para o chão
Tal qual o chão da minha vida
A minha alma comovida
O meu pobre coração

Infeliz da minha mágoa
Meus olhos são poças d’água
Sonhando com seu olhar
Ela é tão rica e eu tão pobre
Eu sou plebeu e ela é nobre
Não vale a pena sonhar”


Sim, desde aquele tempo não existiam apenas raios de sol. A invejosa Íris, criada de Guilhermina descobrira suas desventuras ao lado de Donnie e contou diretamente a Félix, antes mesmo de comentar com o Rei. Félix, deslumbrado com a idéia de receber elogio do Rei por ter tomado providências antes mesmo de receber ordens, seguiu a menina e deu de cara com um beijo ardente do casal. Traiçoeiramente, Félix atacou Donnie por trás, abraçando-o e começando a apertar seu corpo contra o dele, tentando esmagar seus ossos. Com muita bravura e buscando uma força que não tinha, o garoto conseguiu, com um golpe de mão fechada, achar um ponto fraco na nuca do monstrengo, que o fez cair desacordado. Guilhermina correu a seu encontro, olhos lacrimejantes, e lhe abraçou com toda intensidade do que sentia por aquele seu homem.

Mas esse pequeno momento de felicidade terminara com a chegada do Rei Frederico ao lado de Íris, assistindo a cena do abraço. A menina percebeu logo que Íris contara tudo a seu pai, que constatara ali mesmo a veracidade. Destemida, Guilhermina também buscou uma força que sua frágil personalidade aparente não tinha, peitando o pai em nome de seu sublime amor por Donnie. O momento de clímax era maior ainda do que a briga entre Donnie e Félix. Era esperado por todos que o Rei chamaria o pobre plebeu para um duelo, com espadas e cavalos no dia seguinte à tardinha.

Surpreendentemente o Rei chegou próximo a Donnie e lhe estendeu a mão, explicando que todas as vezes que os pretendentes que arranjara para Guilhermina, quando conversavam acerca do que seriam capazes de fazer pela filha, negavam covardemente enfrentar Félix. E que pela primeira vez uma pessoa provara, sem mesmo lhe consultar antes, que seria capaz de dar a própria vida pela de sua amada filha e que isso bastava para que lhe fosse concedida a benção do casamento. Felizes ao extremo, Donnie e Guilhermina se beijaram, sem nenhum pudor, diante de todos no reino. Sem dúvida o casamento mais feliz, superando todos os antecessores das mais longínquas gerações dali.

Viveram felizes, tiveram 3 filhos. A família de Donnie, assim como muitas outras das redondezas, conseguiu o direito de freqüentar o palácio real com toda dignidade que tinham direito. Até Íris deixou a inveja de lado e se tornou a fiel confidente de Guilhermina. Vossa Majestade amenizou sua postura e se tornou mais amável até com a própria esposa, a Rainha Madalena. E os raios de sol nos pastos que Donnie nunca deixaram de cuidar, ainda com todo dinheiro que agora detinha, nunca foram tão vívidos como naqueles áureos tempos.

Certo dia, caminhando pelo feudo em busca de um médico de animais para tratar de uma das ovelhas de seu rebanho, Donnie conheceu a bela plebéia Marguerite, habitante recente do Reino, trazida pela vizinha Morgana. Ela se oferecera para cuidar da pata da ovelhinha, afinal, estava trazendo coincidentemente um pouco de ungüento. Donnie ficou encantado com a delicadeza com a qual aquelas mãos cuidavam delicadamente da pequena ovelha. Eram mãos de fada! A amizade entre Donnie e a recém integrada no reino foi crescendo. Ria-se, ao notar a diferença de como Marguerite sabia pegar numa enxada e cultivar a terra, enquanto sua Guilhermina não sabia fazer sequer os afazeres domésticos típicos das mulheres naquele tempo, tamanha sua natureza de burguesa. A comparação em sua mente foi imediata.

Igual ao início de seu relacionamento com Guilhermina, a proximidade com Marguerite foi inevitável. Ela era algo que estava bem a seu alcance, afinal, tinham mesmo em comum a natureza de serem pobres com dignidade. A pobreza sempre, em todos os tempos e épocas, é obstáculo para dois corações que se amam. E de maneira que não conseguia lidar, Donnie percebeu que a noviça plebéia tinha mais a ver com sua realidade que a sua querida esposa. Por mais amor que nutrisse a Guilhermina, por tudo que passaram juntos para que os raios de sol brilhassem com mais vigor, seu acalento maior se dava com Marguerite. Como seria difícil explicar para a mulher de sua vida de sempre que na verdade, o título era injusto.

Não foi necessário. Certo dia, ao chegar mais cedo com seus filhos de uma caminhada com Íris, Guilhermina vira a conversa animada de Donnie com Marguerite. Ficara petrificada. Apesar de que aquilo não lhe atribuísse culpa alguma, uma sensação ruim tomou seu corpo. Ciúmes? Mais que isso...uma certeza, que não era absoluta, mas que de alguma forma algo não estava bem. Resolvera não usar de métodos ardilosos para chegar à verdade, e sim chegar à própria fonte: conversando com Donnie.

Em uma conversa franca – não poderia ser diferente, Donnie contara sobre a divisão que nasceu em seu coração. Não negara o amor de sempre à Guilhermina, mas também não escondeu o sentimento puro que nasceu entre ele e Marguerite. Confessou que não sabe o que fazer. Ela, se sentindo morta, notou que estava em suas mãos.

Guilhermina tinha uma decisão a tomar.


TH - Necessitando de tais vívidos raios de sol!

3 comentários:

TH disse...

Comentário de TOM, que, por estar sem Java, não conseguiu concretizá-lo:

"hmmm... o que será que o moço Donnie fará? Esse tipo de conversa não me cheira nada bem...
E o que fará a princesa Guilhermina? será a história de Bobbit se repetindo?
Ó, quantas dúvidas...
Abraço, tí-rrêige!"

TH disse...

Resposta:

É...quem sabe o q acontecerá nos próximos capítulos da novela!

Abração dr

Lucca disse...

Tô com um nó na garganta sem tamanho...
Tô perdido e sem norte.
Tão labiríntico isso tudo.
Não pense nunca que não me importo...
Apenas SURTO.
E eu me desconheço em tais momentos...
Não entenda. Nem aceite.
Escolhas, afinal, estão aí pra serem feitas.
O que passou não muda.
O que se sente de verdade, também.
O que muda é o acaso, o destino de alguém.
Fragment-ação do dia que perde e confunde toda a vida.
Que o hiato não seja despedida.
Que o agora não influencie o para sempre.

=´(